quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Capítulo 29 - Quimera


É estranho que eu me veja rodeada pelas mesmas pessoas que estavam comigo na primeira vez que eu vira Dan, exceto por ele não estar aqui, nem ao menos estar respirando o mesmo ar que eu respiro em algum lugar no mundo.

            Já faz duas semanas que eu soubera de sua morte, completando um mês que eu o vira pela última vez, e sentira o toque dos seus lábios por apenas um milissegundo, do qual eu jamais me esqueceria.

Talvez eu já soubesse que nós nunca mais nos encontraríamos, mas o consolo de saber que ele vivia em algum lugar no mundo, sentia o mesmo sol dourar sua pele, a mesma brisa bagunçar seus cabelos, e o mesmo ar preencher seus pulmões ainda me traria alguma felicidade. Ou talvez a dor, amenizada pela esperança de um dia nós nos reencontrarmos, seria menor.

Mas agora tudo me traz lembranças dele, ver cada pessoa que já estivera em sua presença, e até eu mesma. Eu o sinto impregnado em minha pele, como uma cicatriz. Ouvir minha própria respiração me lembra o som da sua, sentir meu toque me lembra o seu, até mesmo o seu cheiro ainda está em mim.

 E eu me vejo ser abraçada por minhas amigas quando começo a soluçar caindo em prantos, o que apenas me entristece ainda mais, ao vê-las se esforçarem sem sucesso em fazer cicatrizar as feridas que ainda sangram me consumindo por dentro.

E eu choro por elas me pedirem para desabafar, e eu não poder fazer isso, porque elas se assustariam e não entenderiam. E mesmo que eu pudesse, não conseguiria, uma vez que a dor que me aflige é incapaz de ser expressa em palavras, gestos, expressões, nem mesmo em gritos agonizantes. Uma vez que toda sua magnitude pode ser apenas sentida, e é o que tenho feito por todo esse tempo.

Elas parecem preocupadas ao tentarem me consolar, e vejo refletido em seus olhares alarmados e cúmplices, numa tentativa de encontrarem as palavras certas a serem ditas, o quanto pareço arrasada. Elas mal sabem que não há palavras que sejam ditas, atos que sejam feitos, ou até mesmo promessas de um futuro melhor, que sejam capazes de me curar.

Porque para o que aconteceu não há volta, só me restando lamentar, me mantendo viva das lembranças da felicidade que me repletara e da vontade de fazer meus pais felizes. Mesmo estando alienada do mundo à minha volta, apática pela minha própria dor constante, eu podia ver o sofrimento dos meus pais, condescendentes à minha dor, logo quando deveriam irradiar felicidade por se verem finalmente livres.

Eu me esforcei tentando mostrá-los o mínimo de regozijo com as boas novas, mas podia ver em seus olhos cansados que não conseguia. Por fim, decidi apenas poupá-los de presenciarem meus momentos de mortificação. Uma vez que nos primeiros dias, os meus sonhos apenas pioraram, não havendo mais sonhos bons, em que eu relembrava nossos momentos felizes, apenas terríveis pesadelos, onde Dan era torturado até a morte pelos algozes contratados por Silas.

Podia ouvi-lo urrar de dor, e eu fazia o mesmo para mostrá-lo que sua aflição não era maior que a minha, e tentava consolá-lo dizendo que pelo menos seu sofrimento terminaria rápido, com sua morte, enquanto eu viveria o resto da minha vida com ele em minha alma.

E então encontrava seu olhar entre acusador e decepcionado, ainda pior do que vira dos meus pais, quando percebia que era eu quem o torturava. O seu rosto machucado me encarava com seu olhar triste, me fazendo correr para abraçá-lo, para tê-lo em meus braços apenas mais uma vez, afastar os cabelos que lhe caíam sobre os olhos, e beijar seus lábios feridos, sentindo seu corpo próximo a mim, para que nunca mais se afastasse.

E eu me via acordar chorando e gritando, tremendo e tossindo ao perceber que Dan nem ao menos tivera direito a um enterro digno. Possivelmente o seu corpo jazia em alguma vala, ou fora dilacerado por abutres. Eu tinha que controlar minhas náuseas ao imaginá-lo sendo torturado e se decompondo em algum lugar imundo, e não foram poucas as vezes em que eu precisara correr ao banheiro e vomitar.

À medida que eu via meus pais se revezarem para irem ao meu quarto ver se eu estava bem, tentei diminuir os meus gritos de desespero, que foram substituídos pelos meus tremores e espasmos de dor, que se tornaram cada vez mais fortes, mas pelo menos meus pais pareceram acreditar que eu melhorara.      

Eu me sentia no mesmo abismo lindo em que Dan me levara, onde nós nos amamos pela última vez, no entanto, isso agora não me trazia uma boa sensação. Era como se eu estivesse caindo, temendo me despedaçar no choque com as pedras, desesperada com a iminência da morte, até o ponto em que sabemos que não há mais volta, e só nos resta desejar que a colisão não seja muito dolorosa e que a morte seja rápida.

 É a sensação do desespero da queda associada a uma colisão lenta e contínua, em que eu me sinto despedaçar pouco a pouco, sentindo toda a sua dor, sendo que o consolo da morte nunca vem.

Encontro os olhares ainda preocupados das garotas, que parecem em dúvida se devem continuar no meu quarto em silêncio ou irem embora me deixando sozinha na minha dor. É a primeira vez que elas me visitam, embora no dia seguinte ao que soubemos da morte de Silas tenhamos voltado à nossa cidade, e desde então elas pedem à minha mãe para deixá-las me ver.

Eu entendo a relutância da minha mãe em não autorizá-las. Não seria bom para ninguém que elas me vissem enquanto eu passava todo o dia ora gritando e chorando, ora inerte, quase inanimada. Minha mãe deve ter percebido minha aparente melhora, imaginando que agora seria seguro deixá-las me cumprimentarem.

Eu realmente estou me esforçando para não apavorá-las e até mesmo sorri quando as vi entrar como quem entra num hospital, no leito de alguém que estivera entre a vida e morte, o que não deixa de ser verdade, exceto que o meu quarto está mais parecendo um necrotério. 

E é tão doloroso ver o quanto elas se importam comigo, assim como meus pais. É difícil ver a vida que Dan se sacrificara para me dar de volta finalmente retornar. Talvez eu queira dizer a ele, onde quer que esteja, que eu não quero, que irei recusá-la e ele pode voltar para mim.

Porque mesmo amando os meus pais, as minhas amigas, eu sei que trocaria tudo para tê-lo de volta. Mas como ele mesmo dissera isso é exigir demais da vida. Então por que a vida não puniu a mim?! Talvez se eu soubesse que Dan não precisara morrer para me dar essa vida, seria mais fácil aceitá-la, sabendo que ele estava sendo feliz em algum lugar.

Elas parecem estar dizendo alguma coisa, mas mal posso ouvi-las. Uma dor súbita me aflige quando as vejo se levantarem se dirigindo à porta parecendo frustradas. Dan morrera para me dar a minha antiga vida, e se eu a recusasse estaria o deixando ter morrido em vão. Isso eu não posso permitir. Mesmo que não concorde com seus motivos, vou deixar sua memória viva em mim. Certa vez ele me pedira para obedecer a ele, e é isso o que irei fazer.

Dan me dera minha antiga vida de volta e sou incapaz de recusar qualquer coisa que venha dele. Querendo ou não, é na minha vida que a sua irá continuar. Talvez o nosso rápido encontro nessa vida em alta velocidade também tenha conseqüências maiores a longo prazo, além da dor e da lembrança do seu amor que me acompanham inexoráveis.

 Dan me fez ver com outros olhos a minha antiga vida, e ele conseguiu alguém para sempre se recordar dele após sua partida, uma vez que é na lembrança de quem nos ama que continuamos a viver.

E então quando eu as vejo abrirem a porta, começando a acenar em despedida, sem esperar qualquer resposta minha, eu digo, me surpreendendo com o som calmo da minha voz, uma vez que há muito tempo eu não a ouvia, exceto em gritos.

__Meninas, por favor, não vão.

Elas correm para minha cama emocionadas, cada uma sentando-se num pequeno espaço, felizes com seus sorrisos radiantes e seus olhos marejados, por eu mostrar qualquer reação, e eu sorrio de volta, libertando lágrimas, que pela primeira vez, são de felicidade.

__Oh, Manuela. Nós sentimos tanto sua falta. __Choraminga Thaís. Eu sei que ela já dissera isso logo que entrara no quarto, mas é como se fosse a primeira vez, e então eu respondo.

__Também senti saudades.

__Ah, Manuela. Nós quase enlouquecemos quando soubemos da sua morte. __Afirma Martha, segurando minha mão imóvel entre as suas.

__E depois com aquela história do Marcelo, então! __Ouço Bárbara declarar animada. __É claro que nós não acreditamos. Que absurdo! Eu não sei de onde o Marcelo inventou tudo aquilo! Você pagar para matar seus pais?! Meu Deus! Que absurdo!

__Mas o Matheus me disse que foi o pai dele. __Assegura Luana em defesa de Marcelo. __O Marcelo chegou todo ferido falando um monte de coisas. Primeiro o pai dele disse que era melhor não falar nada, não se meter. Mas o ataque é a melhor defesa, então tentou defender o filho, antes que a culpa caísse para ele. Mas o Marcelo não concordou com essa teoria de que você teria pagado e ainda estava tendo um caso com um assassino.

__Pois é. Caramba! E era aquele cara que estava no seu aniversário! __Exclama Bárbara em excitação. __Bem que eu o achei muito estranho! Todo esquisitão. Que louco! Seqüestrar você e seus pais, fingir que vocês estavam mortos para assustá-los, mantendo vocês vivos só para pegar mais dinheiro, e depois querer matá-los por vingança ao seu pai. E você ainda conseguiu fugir, procurou o Marcelo, mas depois voltou com medo de que ele fizesse mal a seus pais. Meu Deus! Que história maluca! Ainda bem que ele morreu.

Mesmo me esforçando para parecer calma e simpática, não consigo me impedir de chorar ao ouvir as palavras de Bárbara. Disso eu não pudera perdoar meus pais. Se contássemos a verdade ao voltarmos, descobririam os crimes do meu pai, e toda a rede de negócios ilegais de Silas, que agora pertence aos seus inimigos, agora aliados da minha família, teria sido descoberta. E todos, inclusive meu pai, seriam presos.

E então meu pai decidira contar essa mentira à polícia e à imprensa, justificando nosso retorno do mundo dos mortos, uma vez que apenas assim poderíamos voltar à nossa cidade, onde meu pai comprou outra casa, retomando seus negócios lícitos como investidor.

 Em troca de ter conseguido o apoio de Dan para executar Silas, e das informações que dera, meu pai finalmente conseguira se libertar, não sendo mais obrigado a se envolver em qualquer transação.

Eu ainda não recuperara minha consciência ao saber da decisão dos meus pais. Mas não contive um acesso insano ao sabê-lo. Dan fora nosso herói, se sacrificara para sermos livres, e agora seria o único vilão da história. Quando todos deveriam aclamá-lo como um herói, ele morreria como um criminoso. E eu nem ao menos posso contar a todos o quanto ele foi e ainda é especial para mim, e como era uma pessoa boa.

Por fim, ele morreu como a vida o fez, um assassino, um criminoso, uma pessoa má. E mesmo conhecendo a maravilhosa pessoa que ele fora, devo me manter em silêncio, para meu pai permanecer em liberdade, impune.

Minha mãe irritada me questionou se eu queria meu pai preso, toda nossa família vivendo à margem da sociedade, e, além disso, insistiu, Dan consentira caso isso acabasse acontecendo.

Eu calei meu ataque de protesto, por nem ao menos a memória de Dan ser preservada. Talvez Dan estivesse certo sobre a sua teoria quanto às pessoas. Ele estava correto ao considerar todos como seus inimigos, uma vez que até mesmo após sua morte, todos se comportam da mesma maneira.

E eu deixei de me importar, pois ninguém conheceu Dan como eu. Ele foi como uma raridade, uma preciosidade, e me sinto honrada ao perceber que fui a única que tive acesso a tal maravilha.

No entanto, ouvir Bárbara felicitando sua morte, é demais para eu suportar. E a ferida que começava a coagular transborda sangrante novamente.

__Nada disso importa mais. __Vejo Thaís começar, percebendo meu sofrimento. __Porque a Manu está aqui com a gente. Duvido que ela goste de recordar essas coisas. Ela ainda está muito abalada com tudo o que aconteceu.

__É verdade. __Martha concorda dando um olhar repreensivo à Bárbara que me pede desculpas com os olhos marejados. __A vida continua. E estamos aqui para lhe dar todo o apoio, Manu. Tudo o que você precisar, amiga. Mas acho que você ainda precisa descansar. Nós voltaremos amanhã sem falta.

__Obrigada por terem vindo. Eu... amo vocês.

Elas se despedem sorridentes com a minha melhora, satisfeitas consigo mesmas por terem me ajudado. No entanto, quando vejo todas saírem me acenando em despedida, percebo Esther que permanecera em silêncio se aproximar de mim, acariciando meu rosto.

__Manuela, seus pais devem ter seus motivos para estarem contando essa história. Mas eu sei que foi algo muito maior do que isso. Você não precisa e talvez nem possa me contar. No entanto, você não parece estar sofrendo pelo que passou, parece estar chorando por alguma perda.

__Esther... __Inicio admirando-me com sua intuição audaciosa. __Talvez seja melhor você não saber de nada.

__Eu vi o que aconteceu na sua festa de aniversário. Foi o Dan que matou aquele cara que estava apontando outra arma para você. Eu não falei nada, porque se alguém tinha ou não que falar alguma coisa era você. Deixei que você decidisse. Mas ele parecia estar protegendo você. E quando vi vocês dois conversando na festa, rolou alguma coisa. Eu pude sentir de longe. Nunca falarei isso para ninguém, eu juro. E só estou falando sobre essas coisas, porque imagino que talvez você queira desabafar, já que não pode falar com mais ninguém.

E então eu me vejo a abraçar trêmula, soluçando em seu ombro, sem conseguir me controlar quando ela parece pedir isso, que eu não me controle.

__Esther! É terrível! Ele morreu para me salvar. Eu o amo tanto. Tanto. Eu sei que parece assustador, mas o Dan não é assim como todos dizem. Ele era bom, apenas estava confuso, tinha idéias imprecisas. Mas ninguém acredita, ninguém nunca acreditaria.

__Eu acredito, Manuela. Se você está me dizendo, eu acredito. Mas ele morreu mesmo? __Pergunta me encarando com seu olhar inquisitivo.

__Morreu. E eu me sinto tão culpada. Nós estávamos tão bem, e então eu surtei, falei coisas que não devia. Eu fui tão infantil. __Lamento com minha voz entrecortada. __Ele disse que nós não podíamos ficar mais juntos. Talvez eu aceitasse isso, mas agora ele está morto. E dói tanto. Dói tanto que eu não sei por quanto tempo ainda conseguirei agüentar.

__Talvez você não devesse perder as esperanças, Manuela... __Comenta me analisando cautelosa, com um brilho intenso em seus olhos. __A morte dele me parece muito conveniente. Talvez ele ainda esteja... __No entanto, antes que Esther possa acabar e que eu comece a entender o real motivo de sua frase, vejo minha mãe surgir à porta, envergonhada por ter nos interrompido.

__Desculpa, meninas. É porque as visitas não param de chegar. O Marcelo está aqui, Manuela.

__Acho melhor eu ir. Nós nos vemos amanhã, Manuela. E não se esqueça do que eu disse. __E então vai embora, e eu puno meu coração por se encher de esperanças ao imaginar um sentido absurdo em suas palavras.

E antes que eu possa me despedir de Esther, vejo Marcelo entrar no quarto com um buquê de rosas brancas. Ele parece hesitante me observando à porta, e quando eu sorrio, se aproxima, sentando-se na poltrona próxima à minha cama, após me entregar o buquê, o qual agradeço, enrubescendo.

__Manu, você parece melhor. Eu não sei nem por onde começar... Eu sinto tanto por aquela reportagem idiota. O meu pai disse que era o melhor, e eu confesso que estava meio cego de ciúmes. A teoria que ele me explicou parecia absurda, mas você parecia gostar dele. Eu não entendi nada. Mas tudo felizmente já passou.

__Tudo bem, Marcelo... Você estava confuso. E quem não ficaria? Depois do que eu fiz você passar naquele dia, não tenho o direito de julgar nada do que você tenha feito.

__Eu nem acredito que você está aqui novamente. E você me dizendo que aquela Manu tinha morrido. __Sorri segurando minha mão nas suas, numa das quais eu vejo o anel de compromisso que ele me dera há mais de dois meses. __Ela está bem aqui na minha frente. Um pouco abatida e entristecida, mas aqui. Tudo o que eu pedi agora finalmente se realiza, do jeito que eu pedira. Sem mais medos nem assassinos ao redor.

__Marcelo, você está usando o anel...

__Ah, o anel... Desculpa. Eu não quero apressar nada, mas desde aquele dia o mantenho no meu dedo. Nunca perdi a esperança de que você voltaria para mim, e agora você está aqui.  Eu amo você, Manu. E quero que você saiba, que mesmo com tudo o que você falou sobre aquele cara, nada mudou em mim. Entendo que você estivesse confusa. Não me senti traído nem nada do tipo.

__Marcelo, esse não é o momento...

__Eu sei. Mas eu queria estar por perto, como seu amigo, se você permitir. __Pede disfarçando sua frustração com seu sorriso bondoso, fazendo meu coração apertar dolorosamente quando percebo uma cicatriz em seus lábios, lembranças de um dia que nunca esquecerei. __Eu quero cuidar de você, estar ao seu lado, ajudá-la a curar essas feridas. Certa vez, uma sábia garota me disse, quando eu acreditava ter perdido um grande amor, que eu deveria recomeçar, seguir em frente. E é isso que eu digo a você, Manu. E eu vou estar aqui para ajudá-la a percorrer esse caminho.

__Obrigada, Marcelo. __Agradeço o abraçando. Eu o vejo conter as lágrimas quando se afasta de mim, após beijar demoradamente meu rosto. Eu o beijo de volta grata por sua demonstração de carinho, e sorrio quando ele desaparece pela porta.

As lágrimas caem pelo meu rosto silenciosamente enquanto me indago se realmente mereço tanto amor. Eu tento disfarçá-las quando vejo minha mãe entrar, no entanto ela parece tão satisfeita, pegando as rosas dos meus braços, e colocando-as num jarro com água que ela mesma trouxera, que mal percebe minha dor. Mas eu não a culpo e retribuo seu sorriso quando me abraça extasiada.

__Manu, eu e seu pai estamos tão felizes que tudo esteja voltando ao normal. Nossa vida calma e feliz novamente. Nossa família, suas amigas, Marcelo... Não há mais limites para os seus sonhos, nem empecilhos para suas realizações. Agora o mundo é novamente seu, e você vai perceber, que passando algum tempo, será como se aquele mês nunca tivesse existido. Eu prometo. __E então se despede sorrindo.

Eu me vejo voltar a chorar enrolada nos lençóis com minha dor voltando ainda mais forte. Porque minha mãe está certa. Está absurdamente certa. Tudo o que eu mais temia está acontecendo. Todos estão se esforçando para que a minha vida volte a ser como era antes, e o pior é que isso está realmente acontecendo. Tudo está voltando à normalidade, e aquele mês com Dan parece cada vez mais distante, levando embora as boas lembranças, e me deixando apenas a dor e o vazio da perda.

É como a sensação de ter tido um sonho bom, mas não saber ao certo o que aconteceu, por ele ter se misturado a um terrível pesadelo. É como se eu acordasse de mais um dos meus muito vívidos sonhos, sabendo que ele fora irreal, que nada daquilo realmente ocorrera comigo.

Uma ilusão na qual eu ingenuamente acreditara. Um sonho que se desvanecera ao clarear do dia. Uma fantasia infantil que todos insistem para que eu esqueça. Uma alucinação produzida por minha mente perturbada. Uma utopia, um lugar perfeito, na qual minha entrada não é mais permitida. Uma miragem, ou até mesmo uma quimera.

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