Dezessete
anos não é uma grande idade, um marco na vida de qualquer adolescente. No
entanto, era o meu aniversário, e ele não existe sem festa. E o melhor era que
finalmente ele não seria comemorado na área externa da minha casa, com
convidados dos meus pais que eu nem ao menos conhecia, mas que sempre insistiam
em comentar o quanto eu crescera, embora eu nunca lembrasse tê-los visto
anteriormente.
Seria numa danceteria, com convidados
escolhidos por mim. Apesar de esse ter sido um grande problema. Quem convidar
para o seu aniversário quando você não tem amigos realmente próximos? Que tal
todo o corpo estudantil da sua escola? Pelo menos do último ano, do qual faço
parte? E eles jamais recusariam um convite meu. Não me pergunte o porquê. Nem
ao menos pela minha situação financeira, uma vez que a maioria deles são
igualmente ricos.
E
então, depois de um dia de princesa, dividida entre cuidados de salão de
beleza, telefonemas de colegas que agradeciam o convite para a minha festa na
danceteria mais badalada da cidade e confirmavam sua presença, ao mesmo tempo
em que perguntavam se poderiam levar outros convidados, o que meu pai proibira,
mas que eu permitia diligentemente, além de presentes e telefonemas carinhosos
do meu pai e a companhia constante da minha mãe, analisando cada cor e textura
de maquiagem sugerida pelas funcionárias do salão, me vi rodeada de alunos da
minha escola e pessoas desconhecidas, mas que pareciam divertidas e bonitas, e
nenhuma delas comentou o quanto eu crescera. O que já era um ponto a meu favor.
E
eu estava pronta para arrasar. Quando você passa o dia do seu aniversário
inteiro no salão, sendo depilada, feita limpeza de pele, manicure e pedicure, e
sessões pesadas de maquiagem e cuidados do cabelo, o mínimo que se espera é que
você esteja pronta para arrasar na sua grande noite. E assim eu estava, com meu
microvestido prateado e pregueado na saia, que fez minha mãe calar um impulso
de reprovação, dizendo que tudo bem, pois eram dezessete anos. Eu tive que rir
com esse comentário, e contive minhas lágrimas, quando ela me abraçou chorando
e dizendo o quanto eu estava parecida com ela na juventude. O que foi o melhor
elogio que já recebi, uma vez que minha mãe até hoje em dia é incrivelmente
linda.
Segura
nos meus saltos agulha de 10 cm, com minha bolsa prateada com correntes combinando
com meu brinco comprido que se confundia com meus cabelos soltos e esvoaçantes
e meu singelo colar prateado, que meu pai me entregara, assim que acordei, para
me dar os parabéns, e que pertencera à minha avó já falecida, entrei no salão.
Era
um bonito salão, com ares de modernidade para uma cidade mediana, com aparatos
eletrônicos e luminosos coloridos, contrastando com a estrutura escura e
metálica do chão e das paredes. Era um prédio de dois andares, em que o segundo
andar funciona como uma espécie de sacada e área vip de onde você podia olhar o
movimento no salão embaixo, que geralmente se concentrava ao redor do bar,
situado no meio para evitar que os jovens se intimidassem de se aproximar da
pista de dança. Normalmente funcionava como ponto de encontro para os jovens da
cidade nos fins de semana, que dançavam, namoravam e se divertiam com os
amigos. Mas meu pai o alugara para minha festa. O que não foi uma grande
diferença, uma vez que a maioria que estava ali já o freqüentava normalmente.
Eu
estava no segundo andar, e descendo as escadas, contra minha vontade, pois não
queria parecer uma debutante, me deparei com o salão lotado. Não, não ficou
tudo em absoluto silêncio, embora o DJ tivesse parado a música para a minha
entrada e ninguém precisou conter um grito de admiração, embora eu tenha olhado
bem para o Marcelo, o qual eu estava procurando com o olhar desde que entrara
no salão, para ver se ele faria isso. E ele não o fez. E eles não bateram
palmas, embora tenham começado a cantar parabéns, o que me deixou realmente
embaraçada.
Fui
recebida pelas garotas da minha sala, que pude reconhecer, após meus olhos
terem se acostumado à meia-luz do salão. Talvez eu pudesse considerá-las minhas
amigas, uma vez que visitávamos umas as casas das outras, fazíamos trabalhos
juntas, apesar de não trocarmos confissões. Embora elas já tivessem percebido o
meu interesse no Marcelo. E aquela era a minha noite, todos ali eram meus
convidados, e me dei ao luxo de considerá-los meus amigos.
Recebi
o abraço de todos. E muitos trouxeram até presentes que entreguei para os
organizadores da festa para que os guardassem. O Marcelo não demorou em vir me
cumprimentar, com beijos demorados e incrivelmente desconcertantes em cada lado
da face, me entregando uma singela embalagem, que me contive para não abrir ali
mesmo, algo que não fizera com nenhum outro presente. Tentando timidamente
encontrar seus olhos profundamente azuis, percebi admirada uma leve insegurança
naquele olhar sempre tão determinado.
Conversamos
sobre qualquer coisa que não consigo recordar. Talvez sobre a escola, e o
último mês do último ano letivo que se iniciava, ou sobre a festa, e como ter
trazido um DJ de fora havia sido uma excelente idéia, pois ele era ótimo. Eu
não sei ao certo, só sei que sorríamos constantemente, e pelo menos durante
três vezes ele tocou em mim, na minha mão, no meu braço, entretanto a fila de
convidados que ainda me cumprimentariam se avolumava atrás de nós, e ele se
despediu prometendo me procurar depois. Algo que ele não fez, pelo menos não
antes de eu fazer uma grande besteira.
As
meninas me rodeavam e elogiavam. Muitas pessoas adorariam estar nessa posição,
mas eu nunca gostara muito de ser o centro de tudo, e já me cansava de sorrir
humildemente negando a magnitude dos elogios. A festa estava cada vez melhor, e
nem mesmo pude me impedir de dançar. Alguns garotos ainda se aproximaram, mas
eu não tinha olhos para garotos. Exceto um.
Martha,
uma das mais divertidas e espontâneas das minhas colegas, logo percebeu a
direção dos meus olhares nervosos, enquanto eu disfarçava sorrindo.
__Eu não acredito. __Exclamou ela com descrença, para que
todas as demais quatro garotas do círculo pudessem escutar, me olhando
espantada com seus olhos muito escuros.
__O que foi? __Perguntou Bárbara, com seus olhos verdes
em alerta, que embora parecessem tão inocentes nas suas sessões de fotos como
modelo, eram curiosos assim como ela, que jamais perderia tal comentário sem
saber de toda a história imediatamente.
__Olha isso. __Continuou Martha, olhando para Marcelo e
falando pausadamente, sabendo que já conquistara a atenção de todas as garotas,
o que sempre conseguia por seu ar de liderança, embora à primeira vista muitas
vezes passasse despercebida. __ A Bianca dando em cima descaradamente do Marcelo.
Meu Deus, que horror! Ela pode ser mais oferecida?
__Ele não parece estar achando muito ruim. __Retorquiu
Luana, com seu olhar calmo enquanto observava Marcelo e Bianca, uma garota que
aparentava muito mais que seus dezoito anos, tanto por seu corpo cheio de
curvas, quanto por suas roupas provocantes, dançarem tão próximos que não
passaria uma alma entre eles.
__E daí?__Contrapôs Martha com um olhar fuzilante e
repreendedor para Luana, que assustou até a mim. __Hoje é o aniversário da
Manu, e todo mundo sabe que ela gosta do Marcelo. E que era para eles
finalmente ficarem hoje.
__Todo mundo sabe?! __Perguntei entrando em desespero.
__Assim eu me sinto muito pior. __Confessei não mais tentando disfarçar o meu
desapontamento.
__Desculpa, Manu. Foi modo de falar. É claro que só nós,
suas amigas, sabemos que você gosta dele. E é claro que vamos fazer de tudo
para vocês ficarem hoje. Não importa que tenhamos que passar por cima da
Bianca, mesmo com aquela comissão de frente enorme dela.
__Não, Martha. Não precisa. Se ele não gosta de mim, eu
não posso fazer nada. Ele gosta da Bianca e pronto. Não quero separá-los.
__Concluí contendo minhas lágrimas e me repreendendo por ter alimentado tantas
esperanças para essa noite.
__Eles só estão juntos essa noite. Eles nem se gostam. A
Bianca não fica com um cara por mais que uma noite. __Comentou Thaís, que se
mantivera timidamente no círculo, embora não conhecesse bem as meninas, e só
agora tivera coragem para fazer um comentário. Ela fugia ao padrão de beleza do
grupo de meninas ao redor, magras e altas com ares de modelo, não deixando de
ser bonita com sua tez morena, assim como olhos e cabelos, e seus poucos quilos
acima da média.
__Pois é. __Comentou Martha, após ter passado alguns
milissegundos tentando reconhecer quem falara e entender o que aquela garota
estava fazendo no seu círculo, sem sucesso. E como ela tivesse aumentado seu
arsenal de argumentos, concordou. __E você, Manu, gosta dele desde sempre. E
está linda hoje.
__Você devia ir lá falar com ele. __Sugeriu Bárbara
finalizando.
__É mesmo. __Concordou Martha, usando seu olhar
persuasivo para me convencer. __A festa
é sua. Você podia até mesmo expulsar a Bianca. Quem mandou ela dar em cima do
Marcelo?
__Não! Eu jamais faria isso! Eu a convidei. Ela pode
fazer o que quiser. E como a Luana disse, ele parece estar apreciando bastante.
__Concluí olhando para o casal, enquanto via Marcelo falar algo no ouvido de
Bianca, que a fez rir estridentemente, o que o deixou até um pouco
envergonhado, pelo que percebi.
__Não liga para a
Luana. É por isso que ela continua solteira e amargurada. Ela não luta pelo que
quer. Você devia ir lá falar com ele.
__Não. Não devia. __Disse languidamente Esther, que nem
parecia ter estado prestando atenção de tão entretida que parecia no barman,
que a cada drinque que fazia, ensaiava passos de algum tipo de dança caribenha.
__Se ele quiser alguém que dê em cima dele, ele vai ficar com a Bianca.
Desculpa, Manuela, mas você não vai conseguir ser tão sedutora quanto ela,
mesmo sendo sua festa, e mesmo você estando tão bonita. Ela já tem muitos anos
de prática. E mesmo assim, até agora, eles nem ao menos se beijaram, ele só
está curtindo o momento. Ele não vai arriscar perder você por uma noite com a
Bianca. Mas ele sabe que você estará aqui no alto do seu castelo, esperando que
ele chegue no seu cavalo branco para salvá-la. Então ele só virá quando quiser,
porque sabe que você estará esperando.
Todas ficaram estupefatas em silêncio, tanto por Esther
parecer saber tanto sobre o que acontecia à sua volta, enquanto parecia estar
tão concentrada no peito nu do barman, (como meu pai contratou esse barman
afinal?), quanto por tudo o que ela falou fazer tanto sentido. Sem conseguir
suportar o silêncio, Bárbara pediu desesperadamente:
__Então! O que a Manu precisa fazer?
__Não ficar esperando no castelo. __Prosseguiu Esther
desinteressadamente, enquanto seus calmos olhos azuis não piscavam seguindo os
movimentos caribenhos do barman. __ Mostrar que não é uma princesinha frágil
que vai ficar esperando pela eternidade por ele, enquanto se diverte com a
Bianca. E mostrar que ele não é o único príncipe na jogada.
__Como assim? __Perguntei, embora logo tenha me
arrependido. Eu estava estranhamente interessada em seguir cada passo que Esther
me falasse para que eu conseguisse ficar com o Marcelo. Chegar aos dezessete
sem ter tido nenhum namorado sério faz garotas serem imensamente insensatas.
__Está bem. Sem metáforas. Manuela... __Agora ela desviou
seus olhos azuis do barman, que eu reparara que começara a retribuir seus
olhares, dançando ainda mais sensualmente (Meu Deus, meu pai não poderia
imaginar isso) para os meus olhos. __Você tem que dar em cima de outro cara.
Daí quando o Marcelo procurar você aqui mesmo com o olhar, vai ver que você
saiu, e quando ele procurá-la deve encontrá-la muito bem acompanhada. Então ele
se arrependerá de não ter vindo logo, se esforçando ao máximo para
reconquistá-la. __ E então ela voltou o seu olhar para o barman.
__Adorei! __Exclamou Martha arfando de excitação rompendo
o silêncio que se instalara novamente, como quem se prepara para um jogo
divertido. __É isso aí. Agora só falta escolher o garoto. Ele tem que ser
lindo, para o Marcelo morrer de ciúmes.
__Que tal o Alexandre? __Sugeriu Bárbara sorrindo,
olhando para um garoto de cabelo tingido e ar boçal que conversava com três
garotas simultaneamente.
__Não! Ele é o maior galinha. Ele fica com qualquer uma.
__Martha determinou rapidamente, e ninguém fez comentários de que ela se
incluíra no conceito de qualquer uma. __Eu prefiro o Matheus. O que você acha
Manu?
__Ai, gente. Eu não tenho coragem. __Confessei
ruborizando, não tão animada quanto Martha, mas sentindo um desconforto no
estômago que poderia ser traduzido em quatro letras, medo. __É melhor eu ficar
aqui mesmo. Eu não preciso de garoto para ser feliz. __Finalizei de forma não
muito convincente.
__Concordo. __Comentou Luana, embora não houvesse tanta
segurança em sua voz.
__Assim você nunca vai conseguir o Marcelo. Vai ficar
sentada aqui o tempo todo, o vendo se agarrar com a Bianca. __Prosseguiu
Esther. Olhei rapidamente para eles, que realmente estavam se agarrando, sem
beijos por enquanto, mas com muitas mãos. __Mas o Matheus não teria coragem de
ficar com a Manuela, sendo amigo do Marcelo, ainda mais se ele souber que o
Marcelo tem uma queda por ela.
__O Marcelo tem uma queda pela Manu, Esther?! __Exclamou
Bárbara, roubando as palavras da minha boca.
__Talvez. Mas por via das dúvidas, não é bom causar uma
briga entre melhores amigos. Eles são muito leais em relação a garotas.
__Concluiu Esther.
__Até parece...__Comentou Luana sendo calada por um olhar
repressor de Martha.
__O Pedro é legal. __Sugeriu acanhadamente Thaís, embora
já parecesse arrependida de ter se pronunciado.
__Para você. __Respondeu Esther. __É melhor alguém
desconhecido. Assim o Marcelo ficará
extremamente curioso e se perguntando se o cara já não é seu namorado.
Todas dispersamos os olhares pelo salão, procurando
garotos desconhecidos, que eram muitos, mas principalmente namorados de garotas
da escola. Segui o olhar experiente de Esther, mas esta ainda encarava o barman
que preparara um lindo drinque, colocando-o no balcão e sinalizando para ela ir
buscá-lo. Desviei um pouco o olhar daquela cena que quase me assustava quando
me deparei com um homem desconhecido.
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