sábado, 25 de agosto de 2012

Capítulo 12 - Lua-de-mel (parte 2)


 Dan já está com as malas nas mãos, enquanto a minha permanece no mesmo lugar. E mesmo contra minha vontade, me percebo cair em prantos enraivecida quando começo a falar:

__O que houve? Eu só estava chateada por você ter me deixado sozinha, e eu não falava sério. Mas você não precisava arranjar uma desculpa tão infantil para me abandonar. Eu já disse que não quero que me abandone. Mas não posso forçá-lo a continuar comigo. __Continuo chorando, enquanto Dan permanece imóvel me olhando. __Eu nem deveria estar aqui pedindo para que você não me deixe. Só não pode ser por esse motivo. Você está desistindo de mim? Tudo bem. Eu nem sei como posso agradecer tudo o que fez por mim. E eu já devo estar prejudicando muito a sua vida. Você deve ter outras pessoas para matar ao invés de ficar me salvando o tempo todo.

__Eu posso falar? __Pergunta aborrecido, descansando as malas no chão. __Eu só vim a essa cidade para falar com um dos meus informantes, um dos intermediadores meus, que negociou com o mandante da morte dos seus pais. Eu queria sondá-lo para saber quem poderiam ser os mandantes. Preciso saber com quem estou lidando, até onde vai o poder deles. Mas ele está morto. Foi assassinado num bar, para parecer uma briga comum. Isso aconteceu hoje de madrugada, pouco antes de chegarmos aqui. Eu ainda vi o corpo.

Ele parece quase emocionado. Na verdade, posso ver raiva em sua expressão, mas ele não parece assustado, e isso me acalma, me fazendo parar de chorar.

__Então eles já estão aqui?! __Inquiro começando a guardar minhas coisas na mala.

__Talvez sempre tenham estado. Ou façam parte de uma corporação mais forte do que eu pensava. Nós temos que descobrir quem eles são, ou talvez você nunca possa ter liberdade novamente, sempre estará fugindo.

__Ou talvez seja melhor eles me pegarem. __Inicio deixando cair minha mala na cama, decidida. Subitamente uma idéia surge em minha mente, e ela nunca me parecera tão certa. Eu estou cansada de fazer as coisas erradas com a melhor das intenções. Talvez seja a hora de fazer algo realmente certo. __Você pode me matar. Uma morte rápida, se possível. E você me entrega a eles. Talvez eles perdoem você.

__Você é louca?! __Pergunta incrédulo, pegando minha mala e juntando-a as que ele já carrega. __Eu não fiz tudo isso em vão. E ainda há algumas alternativas.

Ele tranca a porta do quarto, quando saímos, e logo encontramos César na recepção, parecendo arrasado ao ver nossas malas.

__Aqui está o pagamento. __Diz Dan entregando duas notas de cem reais. __E pode ficar com o troco pelos favores que prestou à minha esposa.

__Não precisa. __César revida com um ar ameaçador que parece engraçado no seu rosto angelical. __Foi um prazer. Ela é ótima e muito obediente. __Completa sorrindo.

Eu sorrio de volta pedindo que nada de ruim aconteça com ele nem com Sarah. Esperando que eu não traga apenas desgraça a todas as pessoas a minha volta.

__Eu só não entendo... __Inicio quando estamos novamente na estrada, a qual eu realmente consigo enxergar agora e poderia admirar se não estivesse tão assustada. __Como meus pais podem ter se envolvido com pessoas desse tipo.

__Vocês tem parentes?! __Dan inquiri com os olhos atentos na estrada. Nós agora descemos o outro lado da serra, e a paisagem é deslumbrante. Do outro lado do rio, há quase uma floresta, recortada por pequenas cidades campestres. No entanto, tento não me distrair das perguntas de Dan.

__Não. Eu nunca tive tios, e meus avós já morreram há alguns anos. Não há mais ninguém que eu saiba. Mas por quê?

__Nada. Parentes distantes podem disputar herança, mas se a questão fosse dinheiro eles não teriam me pagado tanto. É mais plausível alguma inimizade, competição ou questões de honra. Com o que seu pai trabalhava?

__Você não sabe mesmo as respostas para essas perguntas? Você deve ter investigado a nossa vida, não?

__Algumas. Mas talvez você tenha algo a me acrescentar. Você conviveu mais tempo com a sua família do que eu. Nunca percebeu nada de estranho? Seus pais eram muito ricos. Não são todos os investidores que têm tanto sucesso.

__Mas meu pai sempre trabalhou bastante. __Defendo, mais tentando convencer a mim mesma do que a Dan. A possibilidade de a honra do meu pai sempre intacta ser abalada após sua morte ainda me é mais dolorosa.

__No entanto, seus avós eram ricos? __Continua ignorando meu argumento.

__Eu nunca conheci meus avós paternos, eles morreram quando eu era um bebê. E os pais da minha mãe tinham algum dinheiro, mas quando morreram, estavam com dívidas que meu pai pagou.

__Ele tinha sócios?

__Não. __Respondo inconscientemente, mal sentindo que estou participando de um interrogatório. Mas as respostas que Dan e eu procuramos são as mesmas, exceto que não tenho tanta certeza se quero descobri-las. __Fazia alguns negócios em comum. Sempre tinha alguns jantares lá em casa, e ele sempre viajava. Esses últimos anos, os jantares e as viagens diminuíram.

__Problemas nos negócios?

__Eu não sei. Meus pais sempre me deixaram à margem dos negócios, e eu nunca me interessei mesmo. Talvez nós estivéssemos com problemas e eu nem soubesse. Agora já é tarde demais. __Concluo olhando pela janela. A movimentação dos carros é maior do que na noite anterior, talvez porque realmente a cidade na qual estávamos seja um ponto turístico no Natal. Eu não me entristeço por não ter visto nevar. Uma chuva leve começa a cair, e encostando meu rosto no vidro da janela, exclamo, quando começo a chorar:

__Eu não agüento mais chorar! Eu não agüento mais isso. Por que meus pais fizeram isso comigo? Eu não vejo porque continuar a viver. Não faz mais sentido. Eu vivia uma mentira. Minha vida era perfeita, e agora eu descubro que havia pessoas querendo destruir tudo o que eu tinha, tudo o que eu mais amava. E elas conseguiram. Só me resta a minha vida. E eu não sei se ela vale grande coisa. Eu desisto... Eu não sei mais o que fazer.

__Calma. __Sinto a mão reconfortante de Dan em meu ombro quando descanso minha cabeça em minhas mãos, caindo em prantos. Ele parece indeciso quanto ao que dizer, mas continua. __A culpa não foi deles. E eu aposto que independentemente do que eles tenham feito para irritar tanto esses homens, e independente de onde estejam, eles devem estar muito mais aliviados ao saberem que você está viva.

__Por quanto tempo?!

__Eu não sei. Mas espero que muito. Eles te deram a vida, o mínimo que você pode fazer por eles, em memória a eles, é realizar todos os objetivos, fazer todas as coisas que desejaram para você. Assim estarão vivos em você, em cada sorriso, e em cada lágrima, cada gesto, cada vez que você relembrá-los, estarão vivos.

__Por que você está fazendo isso por mim, Dan? __Indago, encarando seus olhos escuros fixos em mim, ignorando a estrada que corre em alta velocidade por baixo de nós. __Eu não entendo. Não faz sentido.

Ele me observa por alguns segundos em silêncio. Sinto como se todas as minhas células interrompessem suas atividades, a respiração me falha, meus músculos param, até mesmo meu coração. É como se toda a minha energia se concentrasse apenas nos meus olhos, apenas para registrar o máximo do brilho daquele olhar, que parece ler minha alma.

Eu então o vejo sorrir timidamente, e todo o meu corpo se deleita, fazendo meu coração pular contra meu peito, e ruborizo imaginando que ele possa ouvi-lo bater enlouquecido. É o sorriso mais lindo que eu já vi. Tão diferente do que eu já o vira usar quando tenta persuadir os outros, a sua verdade quase me sufoca e seu olhar brincalhão faz meus músculos tremerem, e espero que sua mão, que permanece em meu ombro não perceba.

__Eu me pergunto isso todos os dias, Manuela.

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