
Ele estava vestido de
preto, com um casaco escuro sobre uma camiseta e calças da mesma cor. A
luz era mais clara no bar, embora ele estivesse sentado numa parte escura, mas
mesmo assim eu me esforçava para analisá-lo. Eu o vi brincar distraidamente com
um copo de uísque (mas que deveria ser refrigerante, uma vez que a distribuição
de álcool era proibida na minha festa), e eu podia até imaginar o barulho dos
cubos de gelo contra as paredes de vidro do copo.
Os
seus cabelos pretos eram curtos, no entanto o pouco da sua franja caía sobre os
seus olhos que passeavam pela multidão. Ele tomou mais um gole, e engoliu
alguns cubos de gelo, virando-se um pouco para o lado do DJ, que era onde eu me
encontrava, me permitindo ver melhor seu rosto, enquanto eu tentava divisá-lo
por entre as pessoas que passavam entre nós.
Poderia
ser descrito como um rosto comum, exceto pela harmonia dos seus traços, quase
geométricos, e o ar misterioso de sua expressão. Os olhos pareciam escuros, emoldurados
por sobrancelhas negras e marcadas que lhe davam uma expressão de quem prefere
observar a ser observado. O seu olhar sério percorria o salão
desinteressadamente, e eu poderia dizer que por menos de um milissegundo ele me
percebera, o que fez uma descarga elétrica percorrer o meu corpo. Seu nariz era
reto e harmônico com o formato do seu rosto. Sua boca era bonita, e eu podia
ver a força do seu maxilar enquanto mastigava os cubos de gelo.
Ele se voltou para o bar, logo que vi seu pomo de adão se
movimentar enquanto deglutia os cubos triturados, sendo servido novamente pelo
barman, que parecia frustrado por Esther não ter ido pegar seu drinque, e ainda
permanecia ao meu lado. Vendo que as outras garotas estavam distraídas e discutindo
entre si os pretendentes, sussurrei para Esther, tendo minha voz abafada pela
música.
__E aquele cara que está sendo servido pelo barman?
__Sugeri me sentindo tremer. Confessar meu interesse por ele em voz alta me fez
estremecer, como se ele pudesse me ouvir através de todo o barulho do salão. Ela
começou a analisá-lo desde os sapatos que pareciam ser de alta qualidade, até
os fios de cabelo que ainda caíam sobre seus olhos. Era possível que ela lesse
até a sua alma com aquele olhar tão penetrante, e senti até um pouco de ciúme,
quando percebi que seria só ela querer, ele seria dela.
Depois de alguns segundos de silêncio, ela assentiu com a
cabeça e murmurou:
__Tudo bem. Você poderia entregar isso para o barman?
__Pediu me entregando um cartão cor-de-rosa com seu telefone. Senti-me receosa,
mas ela já tinha dezoito anos, não podia impedi-la. E ela estava me ajudando a
conseguir o Marcelo, embora eu já não estivesse tão certa de que era ele quem
eu queria.
Distanciei-me das garotas que pareceram surpresas ao ver
que eu já havia escolhido a minha vítima. Elas deram gritinhos de excitação,
mas logo ouvi Esther as reprimindo.
__Parem de olhar. Pelo menos disfarcem. Isso não é tão
fácil quanto parece. __E ao olhar para trás vi que elas relutantemente não olhavam
mais para mim.
Sentei-me ao balcão, num banco ao lado do dele. Não o
encarei, mas pude sentir seu olhar perfurando a minha alma. Entreguei o cartão
cor-de-rosa ao barman, e ele logo sorriu olhando para Esther e me entregando um
refrigerante numa taça. Ainda sentindo o olhar do meu vizinho, me virei, e
olhei no fundo dos seus olhos incrivelmente negros, e me esforcei para sorrir,
embora eu não saiba que expressão meu rosto conseguiu formar. Eu me senti
tremer por inteira, e nunca aquele salão estivera tão frio, enquanto os meus
músculos davam espasmos de desespero.
Ele sorriu de volta, e eu mal pude me segurar no meu
assento. Era o sorriso mais lindo que eu já vira. Era quase como uma placa de
Seja bem-vindo numa casa de campo com um belo jardim. Eu sorri timidamente de
volta, um pouco mais segura, e tentei pronunciar alguma palavra, mas elas
relutavam em sair.
__Boa noite. Eu não sei se você me conhece. Eu sou a
Manuela. __Consegui dizer com meu melhor sorriso, que jamais se equipararia
ao dele, ainda fixo em seu rosto.
__Manuela... __Disse ele lentamente, como se
experimentasse cada sílaba do meu nome. __Você deve ser a aniversariante,
então. Parabéns.
Ele não pegou nem ao menos na minha mão para me
cumprimentar. Mas eu não me importei. Agradeci ao barman que reenchia minha
taça, a qual eu nem ao menos sentira se esvaziar, e vi que enchia o copo de
uísque dele com o mesmo refrigerante. Eu recomecei a tomar a minha bebida,
desejando que Marcelo me procurasse logo e já ficasse com ciúmes. Eu só queria
sair dali. Realmente não fora uma boa idéia ir falar com um completo
desconhecido, só para fazer ciúmes para um garoto que nem ao menos me
procurava, foi quando percebi Bianca dançando com o Alexandre e me perguntei
onde Marcelo estaria.
__Desculpa, esqueci de me apresentar. __Ele continuou com
sua voz firme e convidativa retirando-me dos meus devaneios, com o seu rosto
antes desinteressado parecendo me avaliar. __Eu sou Dan.
__Dan? De Daniel? __Perguntei, tentando encarar novamente
seu olhar intenso.
__Algo do tipo. __Disse ele sorrindo de uma piada que não
entendi. __Quantos anos? __Continuou ele.
__Dezessete. __Respondi enquanto congelava ao encontrar o
olhar irritado de Marcelo que comprovando a teoria de Esther me procurara, mas
logo saiu do meu campo de vista parecendo aborrecido. Fiquei em dúvida se esse
método estava realmente funcionando. Agora ele poderia ficar com a Bianca só
para se vingar.
__É uma boa idade. __Continuou. __ Você já deve estar se
formando. Já sabe que faculdade quer cursar? __Agora eu podia perceber que não
era apenas eu que vasculhava o ambiente ao redor, no entanto ele tinha um
surpreendente método de fazer isso. Embora mantivesse o olhar em mim, podia ver
por poucos segundos seus olhos desfocarem e percorrerem o salão.
Eu
o analisava quando o vi subitamente ficar tenso, apenas pelas suas veias que
saltavam em sua mão que segurava o copo, embora sua face parecesse calma, e sua
conversa banal. Eu me perguntei o
que poderia estar causando aquela tensão. Talvez eu estivesse o incomodando,
embora ele tentasse manter a conversa.
Ele era extremamente cativante, mas algo em sua expressão
começava a me assustar. O barman agora estava na outra ponta do bar atendendo
Bianca e seu novo acompanhante, Alexandre, e me vi sozinha com Dan. Eu já havia
conseguido o que queria. O Marcelo já tinha me visto e nem ao menos estava mais
com a Bianca. Decidi me levantar, e queria sair dali. Ele fez o mesmo
automaticamente, enquanto seu copo ainda batia ritmicamente no balcão por ter sido
solto tão inesperadamente. Tentei ir embora, mas não pude. Talvez o perigo que
parecia ir surgindo me impedisse de sair, ou talvez fossem os seus olhos que
começavam a ficar tensos também e me observavam com cuidado. Ou ainda suas mãos
que pareciam tão grandes pensas no seu corpo. Ou seus cabelos que caíam desleixadamente
sobre seus olhos, contrastando com o resto do corpo em total alerta.
__Eu ainda não sei ao certo... Eu pensei em...__Tentei
recomeçar a conversa, embora ambos estivéssemos em pé e surpreendentemente alertas,
prontos para o pior, quando o ouvi dizer com uma voz que não parecia tão calma
e simpática quanto a que usara anteriormente.
__Afaste-se.__ Falou imperiosamente, enquanto me afastou
um pouco com a mão. Eu não entendi. Então realmente era eu que o irritava, já
que ele me pedia para ir embora tão grosseiramente. Eu me senti uma verdadeira
idiota. Estava fazendo papel de ridícula no meu próprio aniversário. Na minha
grande noite. Não tinha nem coragem de encarar o seu rosto, tinha medo de
encontrar um olhar de desprezo ou mesmo de escárnio.
Encarei
envergonhada suas mãos, quando as vi rapidamente se moverem, uma delas pegando
de dentro do seu casaco um objeto que eu não reconheci imediatamente, até ver
que era uma arma. Eu nem ao menos tive tempo de pensar que ele me mataria
apenas e puramente por tê-lo incomodado, e nem ao menos lamentar a minha morte
precoce aos dezessete anos, com tantos sonhos a serem realizados, tantos
momentos e experiências ainda a serem vividas, porque assim que vi a arma, logo
encontrando os olhos aguçados de Dan, senti sua mão cobrindo minha boca, ao
mesmo tempo em que me puxava e abraçava de costas contra ele.
E
via num lampejo sua outra mão apontar uma arma escura contra um homem que nunca
vira antes que parecia segurar uma arma também, no entanto esta parecia
apontada contra mim. No entanto, se a intenção dele era me matar, não conseguiu, porque,
sem nenhum ruído, vi seu corpo tombar ao chão, enquanto todos os convidados ao
redor se distanciaram, achando se tratar de um bêbado inconveniente.
Foi
então, que ainda com meu grito calado por sua mão, o ouvi sussurrar no meu
ouvido:
__Vá
para o banheiro. E não saia de lá até que tudo tenha se acalmado. E não olhe
para trás.
E
então eu obedeci.
O momento mais interessante é quando Dan a protege do homem o qual aponta uma arma para Manuela.
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