quinta-feira, 26 de julho de 2012

Capítulo 1 - Lampejo


Encaro no espelho minhas íris escurecidas. Elas estão estranhamente negras. Devem ser as minhas pupilas dilatadas, alertas e esperando o pior. Fecho os olhos, e tudo me vem como um lampejo. Abro os olhos. Não havia sido uma boa idéia lavar o rosto para me despertar daquilo que parecia um pesadelo turbulento. Agora encaro no espelho minha face manchada pela maquiagem caprichosamente feita pelas funcionárias do salão, para o meu grande dia. O meu rímel escorre pelo meu rosto, como lágrimas que eu não conseguira derramar.

Fecho os olhos novamente, na tentativa de que quando os abra, perceba que estivera deitada na minha cama por todo o tempo, mas isso não parece uma boa idéia. A vertigem e os tremores que percorrem meu corpo me fazem perder o equilíbrio. Apóio-me na bancada, ao mesmo tempo em que agradeço por minha festa de aniversário estar tão divertida, uma vez que o banheiro está deserto, e ninguém poderia invadir a privacidade do meu desespero.

Abrindo os olhos, encontro meus olhos assustados, finalmente assimilando que não é um pesadelo, uma vez que nem a minha mente sonhadora conseguiria imaginar isso. Encontro minha bolsa segura ao meu lado. É uma emergência, e sei que nessa minúscula bolsa posso encontrar três maneiras de enfrentá-la: meus lenços de papel, que enxugariam minhas lágrimas; meu kit de maquiagem que me deixaria apresentável para voltar e aproveitar a minha festa; e meu celular, para chamar a polícia, ou, quem sabe meu pai.

Escolho o primeiro, não para secar as lágrimas que não vieram, mas para limpar o meu rosto. E aceito o segundo, refazendo minha maquiagem. Talvez isso seja um talento, mas quem me visse agora jamais imaginaria como estivera há um segundo, exceto talvez pelas pupilas.

Procuro meu celular. Ele quase queima na minha mão. Solto-o subitamente no interior da minha bolsa. Eu não saberia o que dizer. E teria mesmo algo para se dizer? O que realmente havia acontecido naquele salão? Sento-me numa cadeira de frente ao espelho. Ela é surpreendentemente confortável para um assento de toalete. Sinto-me orgulhosa por meu pai ter escolhido o melhor para a minha festa. É, talvez aí seja um bom ponto de partida para tentar refazer essa história.

2 comentários:

  1. Oi, Aydee! Li o primeiro capítulo. Fiquei bem impressionado. Gostei sobretudo da linguagem. Estou ansioso por ler os próximos capítulos.
    Uma curiosidade: como soube do meu blog?
    Abraços!

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  2. Oi Adérito. Obrigada por aceitar o convite e espero que goste dos outros capítulos também. Eu estava procurando blogs semelhantes ao meu no Google e no Portal dos blogs, não me recordo em qual dos dois encontrei o seu, mas achei muito interessante...Abraços =)

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